Acessos:

terça-feira, 26 de abril de 2011

Rafael e Juliana

Dedicado a uma pessoa que
me ensinou a ter esperança...

...Rafael morava no Morro da Ciranda, comunidade humilde, e não carente, porque pra ele “carente é o caralho!”. Juliana morava no centro, “perto demais do movimento” era o que pensava.
Rafael cresceu solto nas ruas de terra, correndo atrás de aventuras. Observador, registrava detalhadamente a rotina da quebrada. O tráfico, o futebol, os botecos e as igrejas. Os manos que moravam nas ruas e sempre estavam sorrindo, os manos passando de correntes e carrões, todos de cara fechada.
Juliana vivia entre as aulas de balé e os livros. Adorava ler, mas odiava o balé. Sua mãe gostava que fizesse e Juliana sentia que era importante porque percebia o orgulho da mãe ao contar pras amigas: “Ai amiga, você precisa ver minha Jú fazendo Pliê!”.
O tempo passou, e o observador Rafael ainda observava e ainda não entendia a causa de tanta guerra, de tanto ódio e tanto egoísmo. Já adolescente, fazia parte de um grupo de rap, onde podia expressar as conclusões que tirava de suas observações. Vaidoso, sempre procurou vestir-se bem, e não estamos falando de marcas caras e sim de estilo e elegância.
Juliana também cresceu, fez faculdade e tinha um bom emprego. Dentro de casa sempre foi respeitosa, às vezes até submissa, mas os estudos e o trabalho a ensinaram a se impor e correr atrás dos seus ideais. Visitava o brechó toda semana, pois odiava o consumismo e a ostentação, mas era muito exigente com seu visual.
Rafael teve muitas garotas, mas na sua maioria apenas atração física, pois elas tinham dificuldade em entender sua ideologia de vida e suas convicções e ele as achava fúteis demais.
Juliana teve poucos homens e menos ainda namorados. Valorizava muito a intimidade, a cumplicidade de um relacionamento e nunca era correspondida a altura.
E entres viaturas e protestos, entre shows e militâncias, Rafael se destacou no Movimento Social, e conseguiu uma oportunidade como Gestor Público, onde pode desenvolver suas idéias em benefício de sua comunidade.
Juliana era presidente de uma ONG, que desenvolvia um trabalho de revitalização de comunidades de baixa renda, reciclando lixo e transformando em fonte de renda e recursos para a comunidade.
Um dia se encontraram num terreiro de Candomblé, que Rafael já freqüentava e que Juliana foi convidada a conhecer por amigos em comum. Conversaram sobre projetos, idéias; tornaram-se amigos.
Descobriram que tinham muito em comum, apesar da origem diferente e de uma amizade sincera e responsável surgiu um amor que contagiava tudo e a todos ao seu redor.
Namoraram durante anos e nesses anos dividiram sonhos, projetos, alegrias e tristezas. Casaram-se, tiveram filhos e criaram-nos em meio à natureza e o clima de revolução, numa Chácara entre o Morro da Ciranda e o Centro da Cidade, onde funcionava a sede de um projeto criado por eles.
Juliana estava finalmente se sentindo livre, tinha encontrado sua paz e o amor de viver a vida intensamente.
Rafael se sentia completo, pois encontrou um porto seguro, onde podia atracar depois de suas batalhas, vitórias e derrotas.

Corvo

Nenhum comentário:

Postar um comentário